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Writer's pictureFrancisco Capelo

Teoria Geral do Sonho




“ TEORIA GERAL do SONHO “

 ( para lá de Carl Jung e Sigmund Freud )


Fernando Pessoa: “Tenho em mim todos os sonhos do mundo”

 

 

INTRODUÇÃO

 

3 interpretações diferentes

 

. Freud:

Efectivação de um desejo de índole quase sempre sexual

 

. Jung:

 

Símbolo de algo/ significação individual e/ ou colectiva

. Capelo:

Projecção mental de metáfora visual

 

 

 

Vida e sonho

 


Sendo a vida um contacto “demasiado” directo com a realidade, o sonho parece existir como um modo de “equilibrar” a vida com criatividade e uma narrativa plena de imaginação, da qual o homem aparentemente não pode abdicar e sobre a qual o homem não tem controle.

 

A vida em relação ao sonho torna-se assim uma tentativa de interpretação racionalizante, que contudo não o contém e de que ele sempre se escapa; já o sonho em relação à vida assume-se como uma descoberta/ projecção de subjectividade, tão necessária afinal para um reequilíbrio fundamental na vida psíquica deste homo economicus bem ocidental – e mais além.

 

. Este é também o raciocínio que Jung defende na sua a teoria da compensação: “A função principal dos sonhos é tentar estabelecer o nosso equilíbrio psicológico”

 

Há que recordar entretanto – e sem querer pôr em causa tal interpretação - que nas tradições indígenas, os sonhos são frequentemente vistos como mensagens dos espíritos ou antepassados.

 

 

Extensões da Linguística em Jung

 


Considerando-me um discípulo de Jung e Tàpies, parecendo a obra de Carl Jung muito mais aberta e completa que a interpretação de contornos sexuais muitas vezes literal de Sigmund Freud, há que relembrar alguns dados essenciais da linguística que contradizem esta constatação:

 

. O sistema sígnico dos hieróglifos egípcio é um excelente exemplo; nele imagens são usadas como letras – ou seja, a subjectiva imagem usada como significação directa, dentro de um código com regras tão limitadas quanto as dos vários alfabetos;

. No sistema comunicacional chinês são signos normalmente feitos com pincel e tinta da china que assumem igualmente um significdo único, perdendo a sua condição de símbolo puro – logo, uma lógica totalmente equivalente ao código visual egípcio;

. No reino da pintura abstracta, dois monstros sagrados expandiram de novo do sinal/ signo para um símbolo abstracto pleno de metáforas visuais: Antoni Tàpies e Joseph Beuys provaram-nos que é possível o caminho inverso, rumo ao símbolo de ampla/ total significação.

 

Transpondo agora para o pensamento de Jung, esta tentativa de interpretar o símbolo/ signo também está lá, perdendo o símbolo a sua capacidade de fazer sonhar e assumindo o papel de um sinal, somente. Para Jung, cada elemento de um sonho – pessoas, objectos, lugares – era um símbolo, representando aspectos de nós mesmos e nossa vida. Ora, esta interpretação de símbolo torna-o, como já dissemos - meramente em sinal, dentro de um previsível código de equivalências directas; ou seja – limitação igual à análise Freudiana.

 

Não podemos, por conseguinte, defender a validade da teoria de Jung neste aspecto estrutural, uma vez que a interpretação directa do símbolo que Freud promoveu está aqui também presente – sob outros contornos e recorrendo a outros referenciais de sociedades antigas e de características não raras vezes místicas, mas de facto - está.

 

 

. Função e/ ou identidade:

 


Resta saber se a função do sonho (reequilíbrio psíquico e emocional) o define totalmente, ou se precisamos de toda uma teoria complexa (inconsciente, subconsciente, ego e muitos eteceteras) para o trazer para a psicologia e assim tentarmos entender a sua extensão de um modo que seja compreensível e consensual.

 

Logo e para concluir esta parte: corresponde a sua função à sua identidade enquanto conceito e ponto final; ou a sua identidade é algo que deve ser procurada paralelamente à sua função? A nossa vontade férrea de interpretar sonhos baseia-se e reside afinal, na herança - antropológica talvez - profundamente irracional, travestida de cientificidade, ou é afinal uma atitude científica plena e definitiva?

 

. Pessoalmente parece-me que neste caso muito específico e muito concreto não existe a necessidade de uma definição autónoma; logo; - Função = conceito.

 

 

. Duas incongruências:

 


Quando Salvador Dalí visitou Freud, levou consigo “A persistência da memória”, com os seus famosos relógios moles, que o analista imediatamente interpretou como sendo medo de impotência do próprio pintor. Não ocorreu ao célebre criador da psicanálise a descoberta de Einstein, uns anitos antes, de que o tempo é relativo, entre outras – muitas – possíveis formas de interpretar esta pintura, hoje um clássico do surrealismo.

 

Também o criador oficial do surrealismo, André Breton – um movimento tanto da literatura como do âmbito da pintura – fugiu bastante ao seu próprio conceito: “Surrealismo é o automatismo psíquico puro, mediante o qual nos propomos expressar, tanto verbalmente como por escrito ou de outras formas, o funcionamento real do cérebro, é o ditame do pensamento na ausência de qualquer controle exercido pela razão, para além de toda a preocupação estética ou moral“, quando “vetou” uma pintura de Dalí onde eram bem visíveis fezes nos calções de uma personagem da dita tela. Breton tinha ainda dois outros enormes pré- conceitos contra Dalí: o seu background era da literatura e o de Dalí da pintura; e era de esquerda, enquanto Dalí era fervorosamente monárquico, com posições públicas extremas bem conhecidas. Provavelmente, se a inveja matasse..

 

 

TESE

 


Confúcio: “Aprender sem pensar é tempo perdido”

 


Os melhores artistas e cientistas são aqueles que aplicam o sonho à sua actividade diária; nesse momento a realidade muda – e para sempre.

 

Muito melhor do que referências descritivas enfadonhas do processo de trabalho e do pensar de alguns dos maiores vultos culturais e científicos da humanidade, há que absorver a mestria presente no seu discurso directo:

 

 


CITAÇÕES:

 


. Pintores:

 


. Pintura e cor:

 

. O poeta Guillaume Apollinaire confessa porque adora a pintura moderna: “Pintar é uma arte assombrosa, na qual a luz não tem limites”;

. Henri Matisse faz a ligação entre música e pintura: “A música e a cor nada têm em comum, mas seguem caminhos paralelos; sete notas bastam para escrever qualquer partitura - porque não havia de ser o mesmo na pintura?”.

 


. Pintura e o mundo:

 

. O mágico da cor Paul Klee refere, com propriedade: “Da mesma forma que a criança imita os adultos nos seus jogos, o pintor imita o jogo de forças que criaram e criam o mundo”;

. O artista abstracto holandês Piet Mondrian reafirma o poder da arte, quando diz: “Hoje, a beleza pura não só nos é necessária, mas é o único meio que nos manifesta a força universal que todas as coisas contêm”;

. O mago do informalismo europeu Antoni Tàpies toca num ponto fulcral, dando um passo em frente nesta argumentação: “Além da sua acção social ou política, como qualquer pessoa pode ter, o grande artista deve aspirar a modificar o mundo”;

 


. Pintura e loucura:

 

. Salvador Dalí e o seu método paranóico- crítico não fazem prisioneiros: “A única diferença entre mim e um louco é que eu não sou louco!”.

 


. Pintura e sonho:

 

. Pablo Picasso resume a essência da arte contemporânea: “Pinto as coisas como as imagino; não como as vejo”;

. Já Max Ernst foca um elemento da pintura surrealista: “Assisto à minha pintura como espectador; eu não pinto o sonhado – sonho pintando..”;

. O pintor do caos Jackson Pollock assume: “Quando estou dentro do meu quadro, não tenho consciência do que faço”;

. E ainda Tàpies: “A razão pode ser útil para corrigir a emoção, mas nunca efectuará por si só grandes voos no processo criativo; em contrapartida a imaginação mais desenfreada pode ser válida em arte”.

 


. Psicologia

 

. Carl Jung observou com toda a razão que todas as suas melhores ideias foram criadas em sonhos.

 


. Literatura:

 


. Arte e natureza:

 

. O polémico e sempre desconcertante Lord Byron fala num sentimento típico dos poetas românticos: “Não vivo em mim; torno-me parte daquilo que me rodeia..”;

. E o ícone italiano Dante Alighieri tem esta definição inspiradora: “A natureza é a arte de Deus”

 


. O sonho:

 

. José Saramago e uma estranha comparação: “O espelho e os sonhos são coisas semelhantes; é como a imagem do homem diante de si próprio”;

. Esta ideia luminosa de William Shakespeare aplica-se como uma luva à tentativa de interpretar sonhos: “Não existe o bem e o mal; é o pensamento que os faz assim”.

 


. Músicos:

 

. Beethoven – e bem - puxa a brasa à sua sardinha: “A música é uma revelação superior a toda a sabedoria e filosofia”;

. Mais uma vez a ligação entre arte e sonho é confirmada por Mozart: “É durante a noite, quando não consigo dormir, que as minhas ideias fluem melhor”.

 


. Cientistas:

 


. Ciência e arte:

 

. G. H. Hardy apaixonou-se pela genuína universalidade estética contida no trabalho do fenómeno matemático indiano Srinivasa Ramanujan, sabendo reconhecer a ligação entre ambas: “Apesar de não ser possível prová-las, as suas fórmulas são demasiado belas para estarem erradas..”

 


. Ciência vs imaginação:

 

. Um sonho informou o químico russo Dimitri Mendeleiev sobre a ordem correcta dos elementos baseada no peso atómico;

. Um dos fundadores da Teoria da Estrutura Química, August Kekulé “viu” a estrutura do anel de benzeno num sonho;

. O prodigioso génio Einstein é peremptório quando nos diz, sem hesitações e contra tudo e todos: “A imaginação é mais importante que o conhecimento. O conhecimento é limitado, enquanto a imaginação abraça o mundo inteiro, estimulando o progresso, dando à luz a evolução; ela é, rigorosamente falando, um factor real na pesquisa científica”.

 

 

O músico Tom Waits assegura-nos: “És inocente quando sonhas”

 


Pensamos que o sonho tem características iguais nas suas várias manifestações, sendo um factor que permeia de excelência todas as actividades humanas. São “projecções que ocorrem na mente, quase sempre de metáforas visuais(1)”. Deste modo, de seguida temos a tabela que integra as 4 áreas do conhecimento e refere o tipo de metáfora presente nas mesmas – e 3 exemplos em cada uma. Esta é assim a tese central do artigo “Teoria Geral do Sonho”, algo abrangente e que tem variantes – mas o âmago do conceito é o mesmo.

 

 

Projecção mental de metáforas visuais

 

Área

Tipo

 

 

 

1. Sonhos

(vida pessoal)

a. Pesadelos

b. Metáforas

c. Profecias

2. Arte

(estética e/ ou Gnose)

a. Pintura/ Cinema

b. Escrita

c. Música (1)

3. Religião

(espiritualidade)

a. Vocação mística

b. Iluminação interior

c. Transe/ êxtase/ nirvana

4. Ciência

(leis da realidade)

a. Experiências de pensamento

b. Visões

c. Intuições (2)

 

 

CONCLUSÃO

 

. Concordamos com o influente filósofo Friedrich Nietzsche, quando afirma: “O ser refutável não é o menor dos encantos de uma teoria”

 

Não posso falar por outros “cientistas sociais”, mas eu cá adoooro que me contradigam e critiquem. E tu, o que achas desta Teoria Geral do Sonho? Parece-te verdadeira, ou algo me escapou? Completa nestas linhas:

 

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. GLOSSÁRIO

 

(1). Metáfora visual: é uma técnica utilizada na comunicação visual que consiste em representar conceitos abstratos por meio de imagens ou elementos visuais. Essa estratégia permite transmitir uma mensagem de forma mais clara e impactante, estimulando a criatividade e a interpretação do espectador.a aplicação ou reconstrução metafórica na metáfora visual é feita por meio de ferramentas, formas e composições visuais.

 

Existem exemplos de metáforas visuais na indústria da publicidade e em movimentos de vanguarda artística como o surrealismo (ex: Dalí, René Magritte) e a poesia visual (exemplo: a obra de Joan Brossa)

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