Vamos então a uma definição global das várias categorias de artistas que existem.
Em primeiro lugar na lista, mas na zona mais baixa desta classificação, está o artista pobre.
Este espécime esforça-se tanto na melhoria da qualidade da sua obra como se esforça pouco na promoção social que a sua condição de artista pressupõe. Vai fazer arte como hobbie durante toda a sua vida. Paixão imensa, dinheiro nenhum.
Os artistas expressionistas estão quase todos nesta fase. Homens essenciais como Jean Dubuffet, e a sua arte bruta, plena de loucos e crianças excepcionalmente dotadas mas com pouco talento ou paciência para o marketing: expõem em cafés, restaurantes e galerias municipais e nunca passarão da cepa torta, sem que as grandes galerias ou críticos de arte sequer saibam da sua existência. Aquilo a que podem aspirar é a um reconhecimento após a sua morte física, fenómeno frequente e tão do agrado dos inúmeros seres que vivem à custa da revenda do trabalho dos outros, sem contudo compreender a sua alma.
O melhor exemplo deste género de artista é, como é bem conhecido da opinião pública, Vincent Van Gogh.
Já o artista snob, pelo contrário, aprecia conviver com a fauna que gravita à volta das galerias de renome da praça. Sabe fazer-se notar, conhece as pessoas certas, passou pelas escolas certas e tem os conhecimentos pessoais que interessam à sua ascenção no mundo restrito da arte. A nível técnico costuma usar os materiais mais caros e preocupa-o a conservação das suas obras.
Não precisa de ser um génio criativo, aliás isso só atrapalha. Tem tanto de vendedor astuto como de relações públicas, eternamente feliz no seu métier de auto- promoção e de exposição pública.
Estão nesta cesta os casos de Jeff Koons, Damien Hirst e muitos muitos outros, que fazem da arte contemporânea um trampolim económico e social.
Quanto ao artista flop, é apenas um artista snob que venceu na vida e que, pelo seu exemplo altamente negativo, representa um perigo, no que à influência sobre as novas gerações de artistas diz respeito. Normalmente tenta replicar os grandes e famosos ateliers dos mestres da pintura do passado, que por sua vez replicavam o funcionamento das artes e ofícios da Idade Média.
Muitas vezes despreocupados com a valia qualitativa da arte que produzem, estão, isso sim, muito preocupados com a visibilidade do seu estúdio nos media e nos meios artísticos e com a inflacção que as suas obras podem ter no mercado. Muitos discípulos e assistentes representam muita dessa importância que se quer fazer notar a todo o custo.
Claro que estou a falar do estranhamente endeusado Andy Warhol, cuja lendária Factory é hoje em dia o denominador comum de muito boa gente no mundo das artes plásticas.
Conclusão mais que óbvia: o talento artístico, a qualidade intrínseca da obra, estão a mais nesta equação, e uma eventual forte personalidade do artista poderá ser ainda mais nociva, afastando para sempre as personagens dúbias que poderiam de outro modo ser aliados na promoção de um artista e sua arte.
A arte contemporânea não é um mercado justo ou racional. Move-se por interesses muito específicos, entre os quais o omnipresente lucro máximo. Lançar um novo artista no jogo é algo que se faz com grande antecedência e tacticismo, por parte de um galerista ou agente que raramente está interessado na vertente romântica do artista e sua arte, interessando-lhe o conjunto de telas passível de render bom lucro: não liga ao conteúdo, antes ao valor monetário da forma.
Com jeito vai... o mundo da arte.
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